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Acessibilidade para todos!


Entrevista com Cid Torquato, embaixador do Prêmio WSA no Brasil


Acessibilidade pode significar várias coisas, dependendo do histórico e das necessidades de cada um. Para metade da população mundial (cerca de 3,7 bilhões de pessoas), significa poder usar a internet. Enquanto 87% das pessoas nos países desenvolvidos estavam online em 2019, apenas 47% nos países em desenvolvimento e 19% nos países menos desenvolvidos acessaram a Internet.

Grupos especialmente marginalizados e pessoas com deficiência enfrentam barreiras adicionais no acesso à Internet, incluindo barreiras de acessibilidade e acesso limitado a dispositivos, programas e sites.



O dia 3 de dezembro marca o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência para lembrar ao mundo que a acessibilidade é multifacetada e não deixar ninguém para trás. Especialmente em tempos de crise, é crucial trabalhar em conjunto para encontrar soluções inovadoras para e com pessoas com deficiência, para tornar o mundo um lugar mais acessível e igualitário.

Especialista Nacional da WSA no Brasil, Cid Torquato, companheiro de primeira hora da WSA, construiu uma carreira de sucesso no desenvolvimento de negócios e fundou a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico em 2001. Durante a Reunião do Grande Júri da WSA na Croácia 2007, ele quebrou o pescoço, perdendo 80% do movimento.

Cid se reinventou, encontrando abrigo no serviço público. Ele agora é um ativista pelos direitos das pessoas com deficiência e um conhecido funcionário do governo. Sua missão é aumentar a conscientização sobre deficiência, inclusão e acessibilidade.


Apresente-se, por favor.


Cid Torquato: Meu nome é Cid Torquato, nasci em 1963 em Mogi das Cruzes-SP, Brasil. Estudei direito, mas construí uma carreira em marketing e desenvolvimento de negócios, e fundei a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico em 2001. Quebrei o pescoço em 2007 em uma Reunião do Grande Júri da WSA em Brijuni, na Croácia. Na sequência, fui nomeado Secretário da Pessoa com Deficiência da cidade de São Paulo, 2017-2020. Ao longo dos anos recebi os prêmios ABEMD e do Estado de São Paulo por projetos inclusivos. Sou autor de livros sobre economia digital e empreendedorismo para pessoas com deficiência e atualmente trabalho como CEO do ICOM Libras. Moro no mesmo prédio há 40 anos com minha esposa e dois filhos.

Qual é a sua relação com a WSA?

Cid Torquato: Comecei a colaborar com a WSA em 2003, nas reuniões preparatórias para a Cúpula Mundial da Sociedade da Informação em Genebra e desde então tenho conseguido promover a WSA no Brasil sem interrupções. A cada ano, o WSA no Brasil tem cada vez mais apoiadores e parceiros, à medida que o reconhecimento de sua importância se espalha dentro da nossa Economia Digital. Organizamos um Congresso do Prêmio da Juventude em 2015 e agora esperamos poder trazer um evento global da WSA para São Paulo nos próximos anos.

Tenho orgulho de fazer parte da WSA e considero Peter Bruck uma das minhas maiores referências. Embora viajar agora para mim seja bastante problemático e até perigoso, ainda considero os eventos da WSA como os melhores em conteúdo e com os melhores palestrantes. Eles são uma excelente oportunidade para realmente interagir com especialistas de todo o mundo.



Em 2007, você quebrou o pescoço em um evento da WSA na Croácia. Você poderia nos contar mais sobre o que aconteceu e como isso mudou as coisas para você?


Cid Torquato: Passei uma semana linda em Brijuni, trabalhando duro como jurado e fazendo muitos exercícios, corrida, natação, ciclismo e cavalgada. No último dia, no final da nossa festa de despedida, resolvi dar um mergulho, calculei mal a profundidade da água, bati com a cabeça no fundo e quebrei o pescoço. Uma verdadeira catástrofe. Perdi 80% da minha mobilidade e tive que me reinventar.

Portas se fecharam, outras se abriram e encontrei abrigo no serviço público. Fui trabalhar na Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, onde ascendi a Secretário Adjunto. Trabalhei principalmente com tecnologias assistivas, desde a pesquisa até o fornecimento de novas opções ao usuário final.

Uma grande ironia foi que aprendi sobre Acessibilidade Digital pela primeira vez em Brijuni, cinco dias antes do acidente, já que um dos critérios para julgar os projetos é a conformidade com as recomendações do W3C. Depois disso, na vida cotidiana, tive que aprender da maneira mais difícil.

Qual era o seu foco profissional antes do acidente e como isso mudou?


Cid Torquato: Depois de estudar direito, trabalhei nas áreas de comunicação, marketing, relações públicas e governamentais, formulação de políticas, captação de recursos e desenvolvimento de negócios. Em 2001, idealizei e fundei a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, que, como diretor executivo por cinco anos, levei a se tornar a mais importante associação multissetorial da Economia Digital no Brasil e na América Latina, representando mais de 160 empresas líderes dos principais setores do mercado brasileiro e latino-americano.

Depois que quebrei o pescoço, tornei-me ativista pelos direitos das pessoas com deficiência e um conhecido funcionário do governo, tendo trabalhado para o governo do estado de São Paulo de 2008 a 2016. Em 2017, tornei-me secretário da Pessoa com Deficiência para a Cidade de São Paulo. Até agora, foi o compromisso profissional mais exigente, mas também gratificante que tive. Minha equipe e eu trabalhamos incansavelmente para atender mais de um milhão de cidadãos com deficiência, a maioria deles nos setores mais pobres da cidade.



Conte-nos sobre o seu trabalho em nome das pessoas com deficiência.

Cid Torquato: Como Secretário Estadual e Municipal da Pessoa com Deficiência, atuei em projetos de infraestrutura urbana, mobilidade urbana, inclusão digital, tecnologias assistivas, reabilitação, empreendedorismo e empregabilidade de pessoas com deficiência e outras minorias, em programas emblemáticos e políticas. Dou palestras públicas e participo de eventos e seminários.

As pessoas sabem muito pouco sobre deficiência e acessibilidade, e faz parte da minha missão evangelizar sobre isso. Menos de 1% dos sites são totalmente acessíveis, impactando negativamente milhões de pessoas com deficiência na transformação digital.

Minha contribuição para a causa vai além de apenas falar. Criei a Certificação nacional de Acessibilidade Digital para sites e o grupo de trabalho criou as primeiras normas brasileiras sobre o assunto, uma conquista histórica na área.


No WSA Global Congress 2022, uma parte do painel de discussão na categoria “Inclusion & Empowerment” foi sobre a acessibilidade como um possível novo ODS. Onde você vê a maior necessidade de ação quando se trata de acessibilidade digital?


Cid Torquato: Lancei a campanha para a criação do 18º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável – Acessibilidade para Todos! Globalmente, mais de 1 bilhão de pessoas têm deficiências e são impedidas de exercer os direitos humanos básicos devido à falta de acessibilidade e tecnologias assistivas.

Como uma questão estrutural própria, não pode ficar nas entrelinhas de outros objetivos. Tem que ser explícito, direto, um objetivo em si. Na verdade, sua ausência mostra o tremendo preconceito e capacitismo profundamente marcados no “inconsciente coletivo” da humanidade ao longo da história.

Além disso, 17 ODS não fazem sentido para o design. Por que deixar o último espaço em branco quando o mundo carece tanto de mudanças para o desenvolvimento sustentável?


Quadro com o 17 objetivos do desenvolvimento sustentável, com destaque para o 18° objetivo: Acessibilidade para todos

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